"Sem dúvida, uma manifestação espontânea da criança vale mais que todos os interrogatórios. " Jean Piaget

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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Óia o auê aí, ó!!!

Não pude deixar de visualizar essa frase como resultado do ano letivo de minha filha de quatro anos na escola.
Como mãe, eu deveria estar orgulhosa de suas conquistas na escola. Afinal, se esse era o objetivo, ela cumpriu direitinho e aprendeu a escrever em letra cursiva as vogais. Isso depois de uma sucessão de exercícios repetitivos das letras acompanhadas de figuras. Ora se cobria, ora se escrevia como o modelo...

Alguma semelhança com seus tempos de escola?

Como professora, eu vejo a estagnação do ensino. Há mais de cem anos temos notícias de uma revolução nos modos de ensinar que relembram os princípios da Escola Nova e está presente em boa parte das teorias do desenvolvimento e aprendizagem infantil: a criança age sobre seu mundo, amplia seu conhecimento e se desenvolve a partir desta mesma interação.

Parece óbvio, mas depois de tantas voltas na educação, tantas teorias, receitas e metodologias da moda, não houve uma mínima mudança na forma como a escola se porta diante da aprendizagem, desconsiderando totalmente o que o aluno traz consigo antes de entrar nos muros escolares.

Que a criança já escreve seu nome em letra bastão, que conhece outras letras além das vogais, que sabe para quê servem as letras ou as reconhecem em seu ambiente, integrando-as e significando-as em seu cotidiano; nada disso é levado em consideração, porque a escola já decidiu de antemão que, durante todo um ano da vida dessa criança, ela irá aprender a escrever e reconhecer as vogais. E disso a escola não abre mão!

Longe de aprender a ler e ampliar sua visão de mundo, a criança é levada pela escola a uma viagem fora da sua realidade, como se existisse um mundo à parte em que os conteúdos da escola fazem sentido. E se isso fosse verdade, minha filha sairia da escola este ano e se depararia com um mundo onde os livros, revistas, jornais, outdoors, anúncios e toda variedade de material escrito se resumiria às vogais.

Lembra do “Ivo viu (que) a uva”? Ele cresceu e hoje é o célebre autor da famosa frase: Óia o auê aí, ó!

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